A médica endocrinologista Daniele Zaninelli, em entrevista ao portal Paraná Online, explica o porquê dos sintomas causados por doenças da tireoide, como falta de ânimo, queda de cabelo, alterações menstruais nas mulheres, dentre outros.

logo pronAna Carolina Bendlin

Os distúrbios da tireoide podem não ser problemas exclusivamente femininos, mas definitivamente atingem mais mulheres do que homens. Estima-se que, para cada paciente homem, há pelo menos oito mulheres com alguma alteração nessa glândula, sendo que a mais comum é o hipotireoidismo. Geralmente associado ao ganho de peso, esse distúrbio já foi preocupação, inclusive, de muita gente famosa, como o ex-jogador Ronaldo Fenômeno e algumas atrizes de televisão. No entanto, este sintoma nem é tão característico da doença assim, acontecendo somente quando o paciente tem problemas com a retenção de líquido em consequência da doença. As consequências mais comuns desta alteração são o cansaço e a dor muscular.

“Diferente do que muita gente pensa, o hipotireoidismo não é capaz de produzir gordura, ele só interfere na retenção de líquido, o que pode gerar aumento de peso, mas não é uma consequência obrigatória”, explica a médica endocrinologista do Hospital Marcelino Champagnat Thaisa Hoffmann Jonasson. Além dos sintomas principais, em especial a falta de ânimo, este distúrbio da tireoide pode causar queda de cabelo, pele ressecada, alterações intestinais, e nas mulheres, alterações menstruais. “Isso ocorre por que o hormônio produzido pela tireoide controla o metabolismo, estando diretamente relacionado com o funcionamento das células de forma geral, o que atinge várias regiões do corpo”, explica a médica endocrinologista do Hospital VITA, Daniele Tokars Zaninelli.

A técnica de enfermagem Vivian Mary Blaszczak, 27 anos, sentiu as consequências do hipotireoidismo na pele, literalmente. “Não tinha mais ânimo para nada, o cabelo estava caindo demais (dava para fazer umas cinco perucas por dia!), as unhas quebravam facilmente e a pele esfarelando, fazendo com que as pessoas até comentassem, além de eu ter engordado 18 quilos em seis meses. Como não sabia o que poderia ser, fui fazer um check-up e descobri que era hipotireoidismo“, relembra. Depois de quase um ano de tratamento, ela conseguiu perder cinco quilos e eliminar todos os demais sintomas. Daniele garante que, com a retenção de líquido, o aumento de peso relacionado ao hipotireoidismo é este mesmo. “Normalmente fica entre dois e três quilos, não passa disso”, afirma.

Thaisa explica que a causa dos distúrbios da tireoide ainda não está estabelecida, mas que, na maioria dos casos, o aparecimento do hipotireoidismo tem relação com uma predisposição genética e uma doença autoimune, a tireoidite de Hashimoto. Justamente por isso, não há formas de prevenção, apenas tratamento e controle, que é feito com reposição hormonal. Aliás, o diagnóstico também é feito por meio de dosagem de hormônio, com exames de sangue feitos em laboratório que medem o nível do TSH, hormônio que controla a produção do T4, o hormônio da tireoide. O hipotireoidismo é caracterizado pela deficiência desse último hormônio. Nas mulheres, o controle desse distúrbio deve ser levado a sério, pois ele pode levar à redução da fertilidade e ocorrência de abortos espontâneos. Mesmo quando há aumento do volume da glândula, não é necessária a realização de intervenção cirúrgica, pois o hipotireoidismo não evolui para outras doenças como o câncer.

Hipertireoidismo: um distúrbio mais raro

Bem menos comum que o hipotireoidismo, o hipertireoidismo se caracteriza por uma situação exatamente inversa a este outro distúrbio: aumento da produção do hormônio da tireoide. Desta forma, também apresenta sintomas inversos. “Os principais sinais são exatamente o contrário: intestino solto, batimento cardíaco aumentado, insônia, pele úmida e sedosa. Mas o hipertireoidismo também provoca queda de cabelo e alterações intestinais e menstruais”, comenta Daniele. E, assim como o hipotireoidismo, também atinge mais as mulheres do que os homens. Por isso, a necessidade de o sexo feminino estar mais atento a essa possibilidade.

Outra diferença é que o controle do hipertireoidismo é mais difícil do que do hipotireoidismo. O tratamento é feito de tal forma que haja um bloqueio da produção de hormônio. Isso pode ser feito com medicação ou aplicação de iodo radiativo, que destrói a glândula – com isso, para o hormônio parar de ser produzido e voltar à normalidade, é feita a reposição hormonal. Em alguns casos, ainda há necessidade de intervenção cirúrgica, explica Thaísa. O diagnóstico é feito da mesma forma do hipotireoidismo. E, assim como nos casos do outro distúrbio, também há relação com uma predisposição genética e uma doença autoimune, desta vez, a Doença de Graves. Nesse caso, é comum o aumento do volume da glândula, assim como o paciente apresentar olho saltado.

Fonte: Paraná Online 06/11/2013