Dedico este texto aos portadores de hipotireoidismo que continuam sintomáticos apesar da reposição hormonal. Gostaria de fazer um alerta para alguns pontos que devem ser observados, o que não tem a intenção de substituir a avaliação pelo especialista de sua confiança.

Com a reposição do hormônio tireoideano (T4), espera-se que os sintomas secundários à deficiência hormonal sejam completamente resolvidos, permitindo ao paciente levar uma vida normal. Porém, dados de literatura mostram que cerca de 10% dos pacientes não apresentam melhora completa dos sintomas, mesmo com o hipotireoidismo controlado.

Se você está nesse grupo, veja as dicas abaixo:

1) É importante verificar se os sintomas remanescentes se devem mesmo ao hipotireoidismo ou se há alguma outra condição comprometendo o seu estado de saúde.

2) Os sintomas do hipotireoidismo são inespecíficos, ou seja, podem estar presentes em uma série de outras situações. Observe como estão seus hábitos de vida, pois em meio a uma rotina caótica é comum que não se consiga manter uma alimentação equilibrada, e nem mesmo realizar atividades físicas regularmente, condições essenciais para manter o bem estar no dia a dia. Repare se tem dormido bem.

3) É importante avisar seu médico sempre que houver troca da marca do medicamento (levotiroxina), pois há diferença significativa na potência entre as marcas. Costuma-se pedir um exame de controle algumas semanas após a troca.

4) Evite usar T4 manipulado, pois a maioria das farmácias não possui tecnologia para o preparo de medicamentos em doses tão baixas (microgramas).

5) Respeite o intervalo recomendado entre a ingesta do T4 e outros medicamentos. O uso de suplementos contendo cálcio ou ferro, assim como inibidores da bomba de prótons (ex: Omeprazol), entre outros, podem interferir na absorção/efeito do T4, levando ao descontrole da doença.

6) Você sabia que 66% dos pacientes não usam o T4 conforme recomendado? O uso rotineiro (com relação à dose e horário) é essencial para obter resultados satisfatórios. Recomenda-se a ingesta em jejum, de 30 a 60 minutos antes do café da manhã. Até mesmo variações na quantidade de fibras ingeridas nesse horário podem levar à irregularidade na absorção do T4. Procure manter uma rotina.

7) Realize exames de controle regularmente para os ajustes necessários no tratamento. Tanto doses insuficientes como excessivas podem levar a sintomas desconfortáveis, e, mais do que isso, aumentar o risco de problemas de saúde a longo prazo.

Então, se o tratamento do hipotireoidismo não vai bem, procure seu endocrinologista para uma avaliação detalhada. São inúmeros os fatores que podem interferir nos resultados.

Escrito por

Especialista em Endocrinologia e Metabologia e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua na área há mais de 20 anos. É membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),  e da Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO). Faz parte da diretoria da SBEM-PR.