Foram divulgados recentemente os resultados de uma importante pesquisa que revelou o quanto brasileiros – com e sem diabetes – sabem sobre a doença, e também qual seu comportamento frente a questões como fatores de risco, tratamento e complicações desse importante distúrbio metabólico que afeta cerca de 12,5 milhões de adultos no país.

A pesquisa foi realizada pela revista Saúde, da Editora Abril, com coordenação científica do endocrinologista Dr Carlos Eduardo Barra Couri – pesquisador da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto – que nos convida a divulgar os resultados tanto entre médicos como para a população geral, com a convicção de que com essa atitude ajudaremos a derrubar barreiras no combate ao que chama de “síndrome da falta de informação sobre diabetes”.

Questionários foram respondidos via internet por 1.050 indivíduos, sendo 387 portadores de diabetes e outras 663 pessoas que se classificaram como não diabéticas. Considerando-se que cerca de metade dos diabéticos desconhecem seu diagnóstico e que há cerca de 14 milhões de pessoas com pré-diabetes no Brasil, é provável que parte desses “não diabéticos” estejam em um desses grupos.

Foram três os objetivos primários da pesquisa:

1. Detectar o que parte dos brasileiros conhece sobre prevenção e controle do diabetes;

2. Entender o que, de fato, essa população coloca em prática;

3. Reconhecer as diferenças e as semelhanças entre os grupos com e sem a doença.

Os autores destacam que apesar dos avanços nos medicamentos orais e injetáveis, das novas tecnologias de monitorização da glicose e até mesmo das inovações cirúrgicas voltadas a esses pacientes, o percentual de brasileiros com diabetes bem controlado é extremamente baixo. Entender como os pacientes pensam pode ser um dos caminhos para melhorar essa situação.

Para que a tecnologia de ponta seja aplicada de forma eficaz, é fundamental que a população esteja informada e consciente de questões que passam pela prevenção, diagnóstico e controle da doença. Para isso é preciso investir em educação e informação.

Um resumo dos dados revelados pela pesquisa é apresentado abaixo. O e-book com o texto completo pode ser acessado livremente através do link inserido ao final deste artigo.

PERFIL DA AMOSTRA:

– A média de idade entre os participantes diabéticos e não diabéticos foi de 49 e 45 anos, respectivamente, com proporção semelhante entre homens e mulheres em ambos os grupos.

– Mais de 60% dos entrevistados referia uma renda familiar entre R$2.864,00 e R$9.541,00 ou mais em ambos os grupos.

– Entre os portadores de diabetes, 31% referiram ser portadores do tipo 1 (DM1) e 42% do tipo 2 (DM2). Entre os diabéticos, 68% referiam fazer acompanhamento com um endocrinologista, 16% com um clínico geral e 9% com um cardiologista. Sessenta e dois por cento dos portadores de diabetes acreditavam que a doença estava bem controlada.

Os principais tópicos abordados pela pesquisa foram:

INFORMAÇÃO QUE GERA AÇÃO 

A pesquisa sugere que o público carece de informações qualificadas a respeito do diabetes, o que fica evidente através da persistência de alguns mitos, como: quase 30% do público crê que a dieta pode curar o diabetes. Isso sugere que os conceitos de controle e cura precisam ser abordados com mais efetividade pelos profissionais que assistem a esses pacientes.

Cada vez mais o excesso de peso (e de gordura corporal) tem sido associado à etiologia do diabetes. Estudos têm demonstrado que o emagrecimento, especialmente no diabetes recém-diagnosticado, pode levar até mesmo à remissão da doença, porém, mesmo nesses casos, vigilância constante ao longo da vida é obrigatória. Não há dúvidas de que a abordagem do excesso de peso é fundamental tanto para a prevenção como para o controle da doença.

Apenas 31% dos diabéticos e 37% dos não diabéticos que participaram da pesquisa se consideraram com peso adequado. Mais de 90% dos entrevistados de ambos os grupos reconheceu a gordura abdominal como deletéria à saúde.

Cerca de 85% dos diabéticos participantes da pesquisa disseram já ter realizado alguma tentativa de perda de peso, especialmente com dieta e atividade física. Vinte e cinco por cento disseram ter tomado medicamentos via oral para emagrecer e 4% fizeram uso de medicações injetáveis com esse propósito.

A amostra apresentou um bom conhecimento sobre medidas que ajudam a prevenir o diabetes, no entanto, a maior parte desses hábitos não é colocada em prática. Como exemplo podemos citar que apenas metade dos respondentes pratica atividade física (1 a 4 vezes por semana). Isso nos convoca a pensar em estratégias de comunicação que gerem mais ação e repercussão comportamental.

PERCEPÇÃO DOS RISCOS

O diabetes representa a 3ª maior causa de morte no país e o índice de mortalidade cresceu 12% nos últimos seis anos. Complicações como problemas renais, oculares, cardíacos, além de amputações decorrentes da doença, podem afetar tanto a qualidade como a expectativa de vida desses pacientes.

Apesar disso, a pesquisa revelou que problemas de saúde com menores taxas de prevalência e mortalidade, a exemplo de AIDS e febre amarela, sejam vistos como mais graves que o próprio diabetes.

Parcela significativa dos entrevistados não associa de forma clara a doença com o risco de morte. Apesar de as doenças cardiovasculares serem a principal causa de morte entre pessoas com diabetes, os entrevistados se mostraram mais preocupados com problemas renais e oftalmológicos, assim como amputação dos membros, do que com o risco de morte. Esses dados mostram que é importante trabalhar mais o elo entre diabetes, doença coronariana e acidente vascular cerebral.

NECESSIDADE DE EXAMES
A minoria da população avaliada referiu ter se submetido a um exame de hemoglobina glicada ou ao teste de tolerância oral à glicose, o que ajuda a explicar o número expressivo de pessoas que não sabem ser diabéticas.

A realização insuficiente de exames também preocupa do ponto de vista do acompanhamento médico. Apenas 46% dos diabéticos fazem exames de controle a cada seis meses. Menos da metade das pessoas com diabetes relatou ter passado por exames cardiológicos e/ou renais no último ano, e apenas 16% tiveram os pés examinados. Trata-se de um dado conflitante com a incidência de complicações comuns entre os pacientes.

DESAFIO DO PESO / VISÃO DA COMIDA

A maioria dos entrevistados coloca a adoção de hábitos equilibrados como principal medida para o controle da condição, à frente, inclusive, de seguir o tratamento à risca. Ao mesmo tempo, a restrição alimentar (citada por 35% dos diabéticos) é o fator que mais os incomoda, superando as picadas para medição da glicose e as aplicações de insulina. Praticar exercícios regularmente (24%) vem em segundo lugar na lista de dificuldades encontradas por esses pacientes.

O MÉDICO E A SOCIEDADE

É alarmante o relato de que 22% das pessoas com diabetes não tomaram nenhuma das vacinas recomendadas para essa população, o que pode indicar outro assunto mal explorado no acompanhamento clínico.

CONCLUSÕES

Os autores concluem chamando a atenção para o fato de que a orientação do profissional se mostra decisiva na adesão ao tratamento e no controle glicêmico. Ainda parece existir um abismo entre o que os médicos pensam e orientam aos pacientes, e o que estes entendem e vivenciam. Infelizmente, o que a população sabe nem sempre reflete em suas atitudes.

É importante que criemos oportunidades para levar informações confiáveis sobre a doença a toda a população, o que pode ajudar a prevenir o desenvolvimento da doença ou melhorar a qualidade e expectativa de vida de parcela significativa da população. Faça sua parte! Divulgue essa ideia!

Referências:

http://endodebate.com.br/wp-content/uploads/2018/07/ebook-diabetes-endodebate-2018.pdf